domingo, 23 de março de 2014

Luiza Trajano envia carta a Diogo Mainardi

Visto no Diário do centro do mundo

“Menino, estamos vendendo ainda mais. Toma juízo…”. Luiza Trajano enviou uma carta para Diogo Mainardi, a quem deu uma lição de conhecimento num programa MAnhattan Connection.
Ei-la.
“Caro Diogo,
Como não nos falamos mais desde aquele dia em que – você me perdoe – tive de dar um “fora” em você por ter sugerido que eu vendesse o Magazine Luiza para a Amazon, quero mandar uns dados fresquinhos para você sobre as vendas no varejo, isto é, para o povão.
Menino, sabe que a gente teve um aumento danado nas vendas desde aquele dia?
Este mês,o pessoal lá do Instituto de Desenvolvimento do Varejo – aquela instituição de que falei, que tem um monte de gente bacana, como é o Jorge Paulo Lemann, o Sicupira e o Herman Telles, os top de linha da Forbes – calculou que as vendas aumentaram 7,5 por cento sobre fevereiro do ano passado.
Tem uns economistas chatos que disseram que foi porque o fevereiro deste ano não teve carnaval. Que nada, janeiro foi a mesma coisa e as vendas subiram, no bimestre, 7,1 por cento em relação a janeiro e fevereiro passados.
Tô mandando o link para você conferir. E é link da Reuters, não é da Veja, você pode confiar que não é mentiroso como lá.
E se prepare, Diogo, que mais perto da Copa, vai crescer mais, acima de 10%.
E olha que o mar não tá para peixe no mundo, não. Você viu a notícia de que a Amazon, que você acha o máximo, levou um tombaço no início do ano, com resultados muito abaixo do esperado”.
Se continuar assim, o Magazine é que compra eles… Brincadeirinha…
Mas, sério, pergunta ao Lemann se ele quer vender as Americanas? Nem morta, santa! Está tão otimista com as vendas que está abrindo, só no Rio e em Niterói, 950 vagas agora para a Páscoa…
Assim que o pessoal preparar os gráficos te mando, como daquela vez, está bem?
Beijos e vê se fala pro papai se acalmar e parar de ficar pedindo golpe militar, está bem?
Cordialmente,
Luiza.”

Veja abaixo o vídeo onde a Luiza da uma aula de economia para o Mainard.


Geração de energia no país bate recorde pelo segundo dia seguido.

O globo publicou a matéria abaixo sobre o recorde de geração de energia no país, comprovando mais uma vez que o governo do PT está preparado para qualquer tipo de intempérie. 


RIO - Na última sexta-feira, dia 10, pelo segundo dia consecutivo foi batido o recorde histórico de geração de energia elétrica no País, que está sendo puxado pelas altas temperaturas das últimas semanas. Segundo dados do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), na sexta a geração total de energia foi de 70.421 megawatts (MW) médios, superando a geração do dia anterior que foi de 70.143 MW médios.

Na sexta também, como o GLOBO antecipou, foi batido o recorde de pico de consumo de energia. Nesse dia, o pico máximo de consumo chegou a 79.962 MW às 14h39m, superando o recorde anterior de 79.924 MW de 4 de dezembro de 2013.

O presidente do ONS, Hermes Chipp, garantiu que o atendimento ao mercado está plenamente garantido, apesar dos recordes de geração e de consumo de energia dos últimos dias. Chipp descartou, inclusive, a necessidade no curto prazo, de aumento da geração de energia térmica. Da geração total da última sexta, 10.024MW foram de geração das usinas térmicas, 14,2% da geração total.

Tortura era praticada na ditadura militar antes da luta armada

A tortura passou a ser prática sistemática da ditadura militar logo após o golpe, em 1964. A informação é da Comissão Nacional da Verdade que, nesta terça-feira (21/5), apresentou o balanço de um ano de atividades, os integrantes da comissão desmentiram a versão de que a prática tenha sido efetivada em resposta à luta armada contra a ditadura, iniciada em 1969.




 
A assessora da CNV, a historiadora Heloísa Starling, afirmou que “a prática da tortura no Brasil como técnica de interrogatório nos quartéis é anterior ao período da luta armada, ela começa a ser praticada em 1964. "O que é importante notar é que ao contrário do que supunha boa parte da nossa bibliografia, o que nós temos é a tortura sendo introduzida como padrão de interrogação nos quartéis em 64 e explodindo a partir de 69," disse Heloísa.

Conforme o balanço da comissão o uso da violência política permitiu ao regime construir um Estado sem limites repressivos. “Fez da tortura força motriz da repressão no Brasil. E levou a uma política sistemática de assassinatos, desaparecimentos e sequestros.”
A comissão revelou ainda que a Marinha ocultou informações sobre mortes na ditadura, quando foi questionada em 1993 pelo governo Itamar Franco.

De acordo com levantamentos da Comissão da Verdade, cerca de 50 mil pessoas foram presas só no ano de 1964, em operações nos estados da Guanabara (atual Rio de Janeiro), de Minas Gerais, de Pernambuco, do Rio Grande do Sul e de São Paulo. A comissão identificou prisões em massa em navios-presídios.

A comissão também relatou ter identificado 36 centros de tortura em sete estados, inclusive em duas universidades - na Universidade Federal do Recife e na Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro. “Nós identificamos que as pessoas foram presas dentro dos campus da universidade e as práticas de violência ocorreram dentro do campus”, disse Heloísa Starling.

A historiadora disse que a comissão está no caminho de desmontar a tese de que a tortura foi praticada sem o consentimento do alto escalão militar. Ela apresentou um organograma de 1970, ano de criação do Codi (Centro de Operações de Defesa Interna), que mostra que as informações sobre o que ocorria no órgão eram de conhecimento do alto escalão do Exército, da Marinha e da Aeronáutica.

Toda a bibliografia, segundo a assessora, mostra que a estrutura de comando vai até o segundo nível, onde está o Cisa (Centro de Informações da Aeronáutica), CIE (Centro de Informações do Exército) e o Centro de Informações da Marinha. “É muito pouco provável que o general Médici [presidente Emílio Garrastazu Médici] não recebesse informações do seu ministro mais importante, que era o ministro do Exército, Orlando Geisel”, disse.

Dez razões para não ter saudades da ditadura

Por Carlos Madeiro do UOL

1. Tortura e ausência de direitos humanos


As torturas e assassinatos foram a marca mais violenta do período da ditadura. Pensar em direitos humanos era apenas um sonho. Havia até um manual de como os militares deveriam  torturar para extrair confissões, com práticas como choques, afogamentos e sufocamentos.
Os direitos humanos não prosperavam, já que tudo ocorria nos porões das unidades do Exército.
"As restrições às liberdades e à participação política reduziram a capacidade cidadã de atuar na esfera pública e empobreceram a circulação de ideias no país", diz o diretor-executivo da Anistia Internacional Brasil, Atila Roque.
Sem os direitos humanos, as torturas contra os opositores ao regime prosperaram. Até hoje a Comissão Nacional de Verdade busca dados e números exatos de vítimas do regime.
"Os agentes da ditadura perpetraram crimes contra a humanidade --tortura, estupro, assassinato, desaparecimento-- que vitimaram opositores do regime e implantaram um clima de terror que marcou profundamente a geração que viveu o período mais duro do regime militar", afirma.
Para Roque, o Brasil ainda convive com um legado de "violência e impunidade" deixado pela militarização. "Isso persiste em algumas esferas do Estado, muito especialmente nos campos da justiça e da segurança pública, onde tortura e execuções ainda fazem parte dos problemas graves que enfrentamos", complementa.


2. Censura e ataque à imprensa


Uma das marcas mais conhecidas da ditadura foi a censura. Ela atingiu a produção artística e controlou com pulso firme a imprensa.
Os militares criaram o "Conselho Superior de Censura", que fiscalizava e enviava ao Tribunal da Censura os jornalistas e meios de comunicação que burlassem as regras. Os que não seguissem as regras e ousassem fazer críticas ao país, sofriam retaliação --cunhou-se até o slogan "Brasil, ame-o ou deixe-o."
Não são raras histórias de jornalistas que viveram problemas no período. "Numa visita do presidente (Ernesto) Geisel a Alagoas, achamos de colocar as manchetes no jornalismo da TV: 'Geisel chega a Maceió; Ratos invadem a Pajuçara'. Telefonaram da polícia para o Pedro Collor [então diretor do grupo] e ele nos chamou na sala dele e tivemos que engolir o afastamento do jornalista Joaquim Alves, que havia feito a matéria dos ratos", conta o jornalista Iremar Marinho, citando que as redações eram visitadas quase que diariamente por policiais federais.
Para cercear o direito dos jornalistas, foi criada, em 1967, a Lei de Imprensa. Ela previa multas pesadas e até fechamento de veículos e prisão para os profissionais. A lei só foi revogada pelo STF (Supremo Tribunal Federal) em 2009.
Muitos jornalistas sofreram processos com base na lei mesmo após a redemocratização. "Fui processado em 1999 porque publiquei declaração de Fulano contra Beltrano. A Lei de Imprensa da Ditadura permitia isso: punir o mensageiro, que é o jornalista", conta o jornalista e blogueiro do UOL, Mário Magalhães.

3. Amazônia e índios sob risco 


No governo militar, teve início um processo amplo de devastação da Amazônia. O general Castelo Branco disse, certa vez, que era preciso "integrar para não entregar" a Amazônia. A partir dali, começou o desmatamento e muitos dos que se opuseram morreram.
"Ribeirinhos, índios e quilombolas foram duramente reprimidos tanto ou mais que os moradores das grandes cidades", diz a jornalista paraense e pesquisadora do tema, Helena Palmquist.
A ideia dos militares era que Amazônia era "terra sem homens", e deveria ser ocupada por "homens sem terra do Nordeste." Obras como as usinas hidrelétricas de Tucuruí e Balbina também não tiveram impactos ambientais ou sociais previamente analisados, nem houve compensação aos moradores que deixaram as áreas alagadas. Até hoje, milhares que saíram para dar lugar às usinas não foram indenizados.
A luta pela terra foi sangrenta. "Os Panarás, conhecidos como índios gigantes, perderam dois terços de sua população com a construção da BR-163 --que liga Cuiabá a Santarém (PA). Dois mil Waimiri-Atroaris, do Amazonas, foram assassinados e desaparecidos pelo regime militar para as obras da BR-174. Nove aldeias desse povo desapareceram e há relatos de que pelo menos uma foi bombardeada com gás letal por homens do Exército", afirma.

4. Baixa representação política e sindical

Um dos primeiros direitos outorgados aos militares na ditadura foi a possibilidade do governo suspender os direitos políticos do cidadão. Em outubro de 1965, o Ato Institucional número 2 acabou com o multipartidarismo e autorizou a existência de apenas dois: a Arena, dos governistas, e o MDB, da oposição.
O problema é que existiam diversas siglas, que tiveram de ser aglutinadas em um único bloco, o que fragilizou a oposição. "Foi uma camisa-de-força que inibiu, proibiu e dificultou a expressão político-partidária. A oposição ficou muito mal acomodada, e as forças tiveram que conviver com grandes contradições", diz o cientista político da Universidade Federal de Pernambuco, Michael Zaidan.
As representações sindicais também foram duramente atingidas por serem controladas com pulso forte pelo Ministério do Trabalho. Isso gerou um enfraquecimento dos sindicatos, especialmente na primeira metade do período de repressão.

"Existiam as leis trabalhistas, mas para que elas sejam cumpridas, com os reajustes, é absolutamente necessário que os sindicatos judicializem, intervenham para que os patrões respeitem. Essas liberdades foram reprimidas à época. Os sindicatos eram compostos mais por agentes do governo que trabalhadores", lembra Zaidan.


5. Saúde pública fragilizada


Se a saúde pública hoje está longe do ideal, ela ainda era mais restrita no regime militar. O Inamps (Instituto Nacional de Assistência Médica da Previdência Social) era responsável pelo atendimento, com seus hospitais, mas era exclusivo aos trabalhadores formais.
"A imensa maioria da população não tinha acesso", conta o cardiologista e sindicalista Mário Fernando Lins, que atuou na época da ditadura. Surgiu então a prestação de serviço pago, com hospitais e clínicas privadas.
"Somente após 1988 é que foi adotado o SUS (Sistema Único de Saúde), que hoje atende a uma parcela de 80% da população", diz Lins.
Em 1976, quase 98% das internações eram feitas em hospitais privados. Além disso, o modelo hospitalar adotado fez com a que a assistência primária fosse relegada a um segundo plano. Não existiam planos de saúde, e o saneamento básico chegava a poucas localidades. "As doenças infectocontagiosas, como tuberculose, eram fonte de constante preocupação dos médicos", afirma Lins.
Segundo estudo do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas), "entre 1965/1970 reduz-se significativamente a velocidade da queda [da mortalidade infantil], refletindo, por certo, a crise social econômica vivenciada pelo país".

6. Linha dura na educação 


A educação brasileira passou por mudanças intensas na ditadura. "O grande problema foi o controle sobre informações e ideologia, com o engessamento do currículo e da pressão sobre o cotidiano da sala de aula", sintetiza o historiador e professor da Universidade Federal de Alagoas, Luiz Sávio Almeida.
As disciplinas de filosofia e sociologia foram substituídas pela de OSPB (Organização Social e Política Brasileira, caracterizada pela transmissão da ideologia do regime autoritário, exaltando o nacionalismo e o civismo dos alunos e, segundo especialistas, privilegiando o ensino de informações factuais em detrimento da reflexão e da análise) e Educação, Moral e Cívica. Ao mesmo tempo, com o baixo índice de investimento na escola pública, as unidades privadas prosperaram.
Na área de alfabetização, a grande aposta era o Mobral (Movimento Brasileiro para Alfabetização), uma resposta do regime militar ao método elaborado pelo educador Paulo Freire, que ajudou a erradicar o analfabetismo no mundo na mesma época em que foi considerado "subversivo" pelo governo e exilado. Segundo o estudo "Mapa do Analfabetismo no Brasil", do Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais), do Ministério da Educação, o Mobral foi um "retumbante fracasso."
Os problemas também chegaram às universidades, com o afastamento delas dos centros urbanos e a introdução do sistema de crédito. "A intenção do regime era evitar aglomeração perto do centro, enquanto o sistema de crédito foi criado para dispersar os alunos e não criar grupos", diz  o historiador e vice-reitor do Fejal (Fundação Educacional Jayme de Altavila), Douglas Apratto.

7. Corrupção e falta de transparência 


No período da ditadura, era praticamente impossível imaginar a sociedade civil organizada atuando para controlar gastos ou denunciando corrupção. Não havia conselhos fiscalizatórios e, com a dissolução do Congresso Nacional, as contas públicas não eram analisadas, nem havia publicidade dos gastos públicos, como é hoje obrigatório.
"O maior antídoto da corrupção é a transparência. Durante a ditadura, tivemos o oposto disso. Os desvios foram muitos, mas acobertados pela força das baionetas", afirma o juiz e um dos autores da Lei da Ficha Limpa, Márlon Reis.
Reis afirma que, ao contrário dos anos de chumbo, hoje existem órgãos fiscalizatórios, imprensa e oposição livres e maior publicidade dos casos. "Estamos muito melhor agora, pois podemos reagir", diz.
Outro ponto sempre questionado no período de ditadura foram os recursos investidos em obras de grande porte, cujos gastos eram mantidos em sigilo.
"Obras faraônicas como Itaipu, Transamazônica e Ferrovia do Aço, por exemplo, foram realizadas sem qualquer possibilidade de controle. Nunca saberemos o montante desviado", disse Reis. "Durante a ditadura, a corrupção não foi uma política de governo, mas de Estado, uma vez que seu principal escopo foi a defesa de interesses econômicos de grupos particulares."

8. Nordeste mais pobre e migração


A consolidação do Nordeste como região mais pobre do país teve grande participação do governo do militares. "Nenhuma região mudou tanto a economia como o Nordeste", diz o doutor em economia regional Cícero Péricles Carvalho, professor da Universidade Federal de Alagoas.
Com as políticas adotadas, a região teve um crescimento da pobreza. "Terminada a ditadura, o Nordeste mantinha os piores indicadores nacionais de índices de esperança de vida ao nascer, mortalidade infantil e alfabetização. Entre 1970 e 1990, o número de pobres no Nordeste aumentou de 19,4 milhões para 23,7 milhões, e sua participação no total de pobres do país subiu de 43% para 53%", afirma Péricles
O crescimento urbano registrado teve como efeito colateral a migração desregulada. "O modelo urbano-industrial reduziu as atividades agropecuárias, que eram determinantes na riqueza regional, com 41% do PIB, para apenas 14% do total em 1990", diz Péricles.
Enquanto o campo era relegado, as atividades urbanas saltaram, na área industrial, de 12% para 28% e, na área do comércio e serviços, de 47% para 58%.
"A migração gerou mais pobreza nas cidades, sem diminuir a miséria no campo. A população do campo reduziu-se a um terço entre 1960 e 1990", acrescenta Péricles.

9. Desigualdade: bolo cresceu, mas não foi dividido


"É preciso fazer o bolo crescer para depois dividi-lo". A frase do então ministro da Fazenda Delfim Netto é, até hoje, uma das mais lembradas do regime militar. Mas o tempo mostrou que o bolo cresceu, sim, ficou conhecido como "milagre brasileiro", mas poucos comeram fatias dele.
A distribuição de renda entre os estratos sociais ficou mais polarizada durante o regime: os 10% dos mais ricos que tinham 38% da renda em 1960 e chegaram a 51% da renda em 1980. Já os mais pobres, que tinham 17% da renda nacional em 1960, decaíram para 12% duas décadas depois.
Assim, na ditadura houve um aumento das desigualdades sociais. "Isso levou o país ao topo desse ranking mundial", diz o professor de Economia da Universidade Federal de Alagoas, Cícero Péricles.
Entre 1968 e 1973, o Brasil cresceu acima de 10% ao ano. Mas, em contrapartida, o salário mínimo --que vinha recuperando o poder de compra nos anos 1960-- perdeu com o golpe. "Em 1974, em pleno 'milagre', o poder de compra dele representava a metade do que era em 1960", acrescenta Péricles.
"As altas taxas de crescimento significavam mais oportunidades de lucros altos, renda e crédito para consumo de bens duráveis; para os mais pobres, assalariados ou informais, restava a manutenção de sua pobreza anterior", explica o economista.

10. Precarização do trabalho


Apesar de viver o "milagre brasileiro", a ditadura trouxe defasagem aos salários dos trabalhadores. "Nossa última ditadura cívico-militar foi, em certo ponto, economicamente exitosa porque permitiu a asfixia ao trabalho e, por consequência, a taxa salarial média", diz o doutor em ciências sociais e blogueiro do UOL, Leonardo Sakamoto.
Na época da ditadura, a lei de greve, criada em 1964, sujeitava as paralisações de trabalhadores  à intervenção do Poder Executivo e do Ministério Público. "Ir à Justiça do Trabalho para reclamar direitos era possível, mas pouco usual e os pedidos eram minguados", explica Sakamoto.
"Nada é tão atrativo ao capital do que a possibilidade de exercício de um poder monolítico, sem questionamentos", diz Sakamoto, que cita a asfixia dos sindicatos, a falta de liberdade de imprensa e política foram "tão atraentes a investidores que isso transformou a ditadura brasileira e o atual regime político e econômico chinês em registros históricos de como crescimento econômico acelerado e a violência institucional podem caminhar lado a lado".

sábado, 22 de março de 2014

Liberdade de imprensa nos tempos da ditadura

Visto antes no blog: Aposentado Invocado

O Coronel Newton Santos mostra o respeito que os generais tinham (e ainda tem) pela imprensa nacional, apesar de serem apoiados por ela até hoje.




sexta-feira, 21 de março de 2014

Mensagem em redes sociais tenta levar pânico a população do Rio.

Esta circulando nas redes sociais uma mensagem visando levar pânico a população do Rio de Janeiro, onde informam que haverá neste fim de semana e durante a semana seguinte ações da facção criminosa Comando Vermelho.
Segue a integra da mensagem:
"só estou repassando !!!
Galera, olha o que recebi:
Evitem a partir de quinta áreas de risco, andar por locais onde estejam previstas manifestações ou aglomerações, dirigir em grandes vias de acesso, principalmente a noite, locais perto de cabines ou viaturas da PM.
Pode ser que a chapa dê uma esquentada"
Recebi e estou repassando (já perguntei à amigos q trabalham na PM  e eles confirmaram):
Uma amiga minha que é oficial da PM pediu para avisar a família que eles receberam informações que o CV esta semana vai criar um inferno no Rio de Janeiro !!!! Ela estava de folga (todos que estavam) foram chamados e terão que trabalhar até domingo sem folga!! A parada parece q vai ser feia pq eles deixaram marinha e exército de sobreaviso !!!! Atenção aí !!!!!
CHEGOU AO CONHECIMENTO DESTA AGÊNCIA DE INTELIGÊNCIA QUE OS TRAFICANTES: MARRETA, PINÁ, FÚ E CLAUDINHO DA MINEIRA, RECEBERAM ORDENS VINDAS DOS PRESÍDIO'S DO RIO E FEDERAIS PARA FAZEREM UMA ONDA DE ATAQUE EM TODO RIO DE JANEIRO.
ESSAS ORDENS SERIAM PARA QUEIMAR ÔNIBUS, ATACAR DELEGACIAS, CABINA'S DA PM, ESTAÇÕES  ELÉTRICAS, UPP's, POLICIAIS DE FOLGA, POSTOS DE GASOLINA, TELEFÉRICO E PONTOS TURÍSTICOS.
ESSAS INFORMAÇÕES CHEGARAM AO NOSSO CONHECIMENTO ÀS 14 HORAS E 30 MINUTOS DE 12 DE MARÇO DE 2014, POR UM COLABORADOR MORADOR DO COMPLEXO DA PENHA.
ESSE ATAQUES NÃO SE RESTRINGEM SOMENTE AS UPP's, MAS É PARA SEREM EXECUTADAS EM TODO RIO DE JANEIRO, POIS OS TRAFICANTES DO COMANDO VERMELHO ESTÃO ENXERGANDO A POLITICA DE PACIFICAÇÃO COM UMA TENTATIVA DE EXTINGUIR A FACÇÃO QUE ELES REPRESENTAM DO RIO DE JANEIRO E ASSIM BENEFICIANDO OUTRAS FACÇÕES COMO ACONTECEU NA VILA KENNEDY QUE RECEBERÁ UMA UPP NOS PRÓXIMOS DIAS E ESTAVA SOFRENDO ATAQUES DO TERCEIRO COMANDO DO COMPLEXO DA CORÉIA.
UM POLICIAL MILITAR QUE PARTICIPA DE UM PROJETO NA UPP FAZENDINHA, INFORMOU QUE UM COLABORADOR VINCULADO AQUELA COMUNIDADE, ALERTOU SOBRE A ORDEM DO TRÁFICO DE FECHAR O COMERCIO DO COMPLEXO DO ALEMÃO À PARTIR DAS 14HORAS.
NÃO SABE AO CERTO QUANDO SE INICIARÁ OS ATAQUES, MAS A ORDEM É QUE SEJA LOGO E QUE PODE INICIAR-SE AS 16 HORAS, POIS FONTES DE OUTRAS INTELIGÊNCIA JÁ ESTÃO SABENDO DOS ATAQUES  E ASSIM INFORMOU(INTELIGÊNCIA DA MARINHA DO BRASIL).
E DEIXA CIENTE TAMBEM QUE CHEGOU DO N.I DESTA AGÊNCIA O SEGUINTES INFORME:
Galera recebi essa informação cuidado
Resumindo ta tenso
Tenham cuidado
Pois estao escondendo o que a populaçao carioca esta passando.
Não sei se e verdade, mas não custa ficar ligado!!!!!"

segunda-feira, 17 de março de 2014

Fundação Perseu Abramo lança revista especial sobre a Ditadura no Brasil

A Fundação Perseu Abramos publicou na última quinta-feira (13/03/2014) a edição especial da revista Perseu: História, Memória e Política, motivada pelo aniversário de 50 anos do golpe militar que depôs o então Presidente João Goulart e instaurou  a ditadura no país por 21 anos.

E possível também fazer o download da revista no site: http://novo.fpabramo.org.br/content/revista-perseu-especial-cinquentenario-do-golpe

Leia e divulgue o excelente material.

quarta-feira, 12 de março de 2014

Quando não há argumentos, inventam-se muitos!

Por Francisco Costa no facebook

A nova moda na direita e entre os comentaristas da Grobio é alardear apagões, racionamento de energia elétrica, bug no sistema energético nacional... Repetindo na rede o apagão moral que sempre existiu no cérebro deles.
Vamos colocar as coisas no devido lugar?
1) Excetuando a região norte (Amazônia), passamos pela maior estiagem dos últimos quarenta anos, com meses sem chuvas continuadas e fortes;
2) Como a nossa matriz energética é a partir da água (hidrelétricas), claro que isso iria se refletir na produção de energia;
3) As chuvas repentinas e rápidas, de verão, não adiantam em nada: parte da água é imediatamente absorvida pela biomassa (fauna e flora) sedenta; parte infiltra-se no solo ressequido, ficando retida, e parte evapora-se logo no dia seguinte, quando volta o solzão. Para que a água escorra para os reservatórios é necessário que a biomassa, o solo e os lençóis freáticos estejam saturados, encharcados, o que exige chuvas continuadas, por dias, fortes ou não (interessante é que explico isso para os meus meninos e meninas do ensino fundamental e os telecotuais da Grobio fingem que não sabem, jogando a bomba no colo do governo);
4) Mesmo com a escassez de água, a maior dos últimos quarenta anos, repito, temos ainda reservas que, somadas à energia produzida pelas termoelétricas, dão para bancar mais um mês e meio da demanda. O verão está terminando e não é possível que não venham chuvas;
5) Como a energia produzida nas termoeléticas (diesel, carvão mineral, carvão vegetal ou lenha) é bem mais cara, a falta de caráter dos comentaristas se divide: metade diz que as produtoras e distribuidoras de energia vão falir, e a outra metade, que o povo está pagando, través de subvenções;
6) Não irão falir nem o povo está pagando, subvencionando. O governo federal está cobrindo a diferença de preços, POR EMPRÉSTIMO. Assim que os reservatórios subam e as concessionárias voltem a mamar lucros astronômicos, pagarão;
7) Em ato falho, os apóstolos do apocalipse nacional, dizem que a demanda por energia elétrica cresceu 73% nos últimos dez anos, o maior crescimento do setor, no mundo. E aí pergunto: o brasileiro passou a dormir com as lâmpadas acesas ou é reflexo de um vigoroso crescimento econômico, com mais fábricas, mais lojas, mais residências, mais uso de eletrodomésticos? Até quando dá porrada a direita é obrigada a reconhecer;
8) Reclamam que não estão sendo tomadas medidas para garantir o suprimento pelo aumento da demanda. Várias usinas estão sendo construídas, mas há que se considerar que:
a) São obras gigantescas, com a necessidade de mudanças de cursos de rios e que exigem muito tempo de trabalho, pelo volume de trabalho mesmo e gasto de material, quase sempre trazido de longe, já que as usinas não ficam em centros urbanos (Itaipu consumiu concreto e ferro suficientes para a construção de 210 Maracanãs);
b) A oposição e seus coxinhas amestrados atrasam propositalmente as obras, entrando com medidas cautelares, na Justiça, paralisando obras, por questões trabalhistas ou ambientais, para, politicamente, retardarem os trabalhos;
9) Breve lerei na Veja ou ouvirei na Grobio: “quando Fernando Henrique Cardoso separou as águas do Mar Vermelho, para Moisés passar...” ou “quando a militância petista começou a gritar Barrabás, Barrabás, Barrabás...”
10) Vão ralar os rabos nas pedras e deixem de ser idiotas. É muita energia mental gasta para o engodo, o embuste, a empulhação, o lepo lepo da política.
Francisco Costa
Rio, 11/03/2014.

Documento revela plano para derrubar o governo da Venezuela

Visto antes no Viomundo
Washington busca a troca de regime na Venezuela
por Garry Leech, no Counterpunch, em 04.03.2014
Tanto os protestos organizados quanto os problemas econômicos contra os quais os manifestantes protestam parecem ter sido orquestrados pela oposição com o objetivo de desestabilizar o país e derrubar o governo. Incapaz de ganhar o poder através do voto, a oposição venezuelana voltou-se para meios inconstitucionais para derrubar o presidente Nicolas Maduro.
Com apoio apenas limitado dos venezuelanos, a oposição se tornou dependente de ajuda externa dos Estados Unidos e da Colômbia, o aliado mais próximo dos Estados Unidos na América Latina. Os atuais protestos parecem representar a tática mais recente da campanha de desestabilização que Washington vem desenvolvendo contra a Venezuela por mais de uma década, inicialmente para derrubar o presidente Hugo Chávez e agora para derrubar seu sucessor, Maduro.
Desde o mês passado, manifestantes em várias cidades venezuelanas tem protestado contra os blecautes de energia e a falta de produtos básicos de alimentação. Mais de uma dúzia de pessoas morreram nos protestos. Enquanto eles são descritos pela mídia corporativa como manifestações espontâneas resultantes da crescente frustração com a incapacidade do governo de gerenciar a economia, um documento estratégico recentemente revelado sugere que os protestos são a tática mais recente da antiga estratégia de desestabilização orquestrada pela oposição com forças externas.
O documento, que foi obtido e publicado pela advogada Eva Gollinger, ilustra como as correntes manifestações na Venezuela foram orquestradas. Ele foi escrito pela FTI Consulting*, empresa baseada nos Estados Unidos, com duas organizações colombianas (Fundación Centro de Pensamiento Primero Colombia e a Fundación Internacionalismo Democrático) numa reunião de junho de 2013. Mark Feierstein, chefe das operações latino-americanas da Agência Internacional de Desenvolvimento dos Estados Unidos (USAID) e líderes da oposição venezuelana, incluindo Maria Corina Machado, Julio Borges e Ramon Guillermo Avelado participaram da reunião.
O documento pede o restabelecimento da democracia na América Latina colocando como alvos os líderes políticos “pseudo-progressistas” da Venezuela. De acordo com o texto, “o plano, aprovado por consenso com representantes valorosos da oposição ao governo de Nicolas Maduro, foca nestes objetivos com o forte apoio de várias personalidades globais, com o objetivo de retornar a Venezuela à verdadeira democracia e independência, que foram sequestradas por 14 anos”.
Em seguida propõe quinze ações, incluindo uma que diz “manter e aumentar a sabotagem que afeta os serviços para a população, particularmente o sistema elétrico, o que resulta em culpa do governo por ineficiência e negligência”. Outra ação busca “aumentar os problemas com a escassez de produtos da cesta básica”.
O documento vai adiante para especificar ações violentas de desestabilização, sugerindo “quando possível, a violência deve causar mortos e feridos. Encorajar greves de fome longas, mobilizações de massa, problemas em universidades e outros setores da sociedade agora identificados com instituições do governo”.
O plano também pede o recrutamento de “jornalistas e repórteres venezuelanos e internacionais da CNN, New York Times, New York Post, Reuters, AP, EFE, Miami Herald, Time, BBC, El Pais, Clarin, ABC e outros”.
Finalmente, o plano pede a membros da oposição que “criem situações de crise nas ruas para facilitar a intervenção de forças norte-americanas e da OTAN, com apoio do governo da Colômbia”.
O documento estratégico propõe um calendário de seis meses para as ações. É interessante que os atuais protestos começaram sete meses depois do plano ter sido desenvolvido.
O presidente Maduro, como seu predecessor Chávez, tem alegado repetidamente que as elites econômicas da oposição, que controlam a produção privada de alimentos, tem deliberadamente criado falta de produtos básicos ao cortar a produção, estocar alimentos e exportar para a Colômbia, criando a impressão de que o governo está gerenciando erradamente a economia e gerando protestos civis. O plano estratégico claramente sugere que a oposição joga um papel na criação da falta de alimentos e nos blecautes elétricos, ambos atribuídos publicamente a mau gerenciamento do governo.
As três entidades que aparecem no título do documento tem relação próxima com Washington. A FTI Consulting é uma empresa global de gerenciamento de risco baseada na região de Washington, enquanto as outras duas, baseadas em Bogotá, destacam o papel do ex-presidente colombiano Alvaro Uribe, um linha-dura que foi o aliado mais próximo de Washington na América Latina durante seus oito anos no poder (2002-2010).
Embora a estratégia não se refira ao governo dos Estados Unidos diretamente, levanta questões sobre a possibilidade da empresa norte-americana de consultoria e de duas organizações colombianas estarem atuando de forma encoberta em nome do governo dos Estados Unidos. Tal estratégia estaria de acordo com a longa campanha de desestabilização de Washington contra a Venezuela com o objetivo de conseguir mudança de regime. A campanha envolveu apoio ao golpe militar de abril de 2002 que derrubou o presidente Chávez**.
O plano fracassou quando o maciço apoio popular a Chávez forçou o exército venezuelano a reinstalar o líder eleito democraticamente três dias depois.
Depois do fracasso do golpe, Washington intensificou suas tentativas para desestabilizar a Venezuela ampliando o apoio às forças de oposição sob a desculpa de “promover a democracia”.
Pouco depois do golpe fracassado, Maria Corina Machado, uma importante líder da oposição envolvida no golpe, formou a organização não-governamental Súmate para organizar e promover o referendo revogatório para tirar Chávez do poder. Os Estados Unidos financiaram a Súmate através da USAID e do National Endowment for Democracy (NED).
A Súmate se encaixava bem no NED, que foi estabelecido em 1983 para “promover a democracia” e organizações da “sociedade civil” no exterior. Na verdade, os objetivos do NED tem sido os de dar financiamento para forças políticas pró-Estados Unidos na América Latina, África e Ásia de forma a enfrentar governos que desafiam interesses dos Estados Unidos. Com este objetivo, o NED assumiu o papel de desestabilização antes jogado pela CIA em países como o Chile, nos anos 70.
Alan Weinstein, um dos fundadores do NED, disse em 1991: “Muito do que fazemos era feito 25 anos atrás de forma clandestina pela CIA”.
Depois que o referendo revogatório fracassou na remoção de Chávez do poder, em 2004, os Estados Unidos ampliaram ainda mais seu apoio à oposição e às tentativas de enfraquecer o governo venezuelano.
Um telegrama secreto mandado pela Embaixada dos Estados Unidos na Venezuela a Washington, que foi publicado pelo Wikileaks, se refere ao papel do Office of Transition Initiatives (OTI), da USAID.
De acordo com o telegrama, “o embaixador definiu a estratégia de 5 pontos da equipe no país para guiar as atividades da embaixada na Venezuela no período 2004-2006… Os focos da estratégia são: 1) Fortalecer Instituições Democráticas, 2) Penetrar a Base Política de Chávez, 3) Dividir o Chavismo, 4) Proteger Negócios Vitais dos Estados Unidos, e 5) Isolar Chávez Internacionalmente”.
O telegrama segue notando que “este objetivo estratégico representa a maior parte do trabalho da USAID/OTI na Venezuela… Os parceiros da OTI estão treinando ONGs para se tornarem ativistas… 39 organizações focadas em ações públicas foram formadas desde a chegada do OTI; muitas destas organizações como resultado direito de programas e financiamento do OTI”.
O telegrama destaca como era a estratégia dos Estados Unidos de infiltrar a então base primária de apoio de Chávez entre os pobres: “Um mecanismo eficaz de controle chavista aplica vocabulário democrático para apoiar a ideologia revolucionária do bolivarianismo. O OTI vem trabalhando para enfrentar isso através de um programa de educação cívica chamado ‘Democracy Among Us’. Este programa interativo de educação funciona através de ONGs em comunidades de baixa renda. … O OTI apoia ONGs locais que trabalham em bases chavistas e com líderes chavistas… com o efeito desejado de afastá-los vagarosamente do Chavismo”.
Entre 2006 e 2010, a USAID gastou cerca de U$ 15 milhões na Venezuela com uma porção significativa do dinheiro usada para financiar programas universitários e workshops para jovens, sem dúvida com o objetivo de “afastá-los vagarosamente do Chavismo”.
O papel proeminente dos estudantes universitários nos atuais protestos sugere que a estratégia dos Estados Unidos funcionou.
Encarando a ajuda dos Estados Unidos a membros da oposição como violação da soberania da Venezuela, a Assembleia Nacional venezuelana aprovou uma lei em dezembro de 2010 proibindo o financiamento estrangeiro de atividades políticas — atividades que, ironicamente, também são ilegais nos Estados Unidos. Depois da aprovação da nova lei venezuelana, a USAID/OTI transferiu suas operações da Venezuela para Miami.
O Escritório para Iniciativas de Transição (OTI) da USAID foi criado em 1994 e seus objetivos são claros: obter a mudança de regime.
De acordo com a USAID, “os programas do OTI servem como catalizadores de mudança política positiva… Aproveitando janelas críticas de oportunidade, o OTI trabalha em países dados a conflitos para providenciar assistência rápida, flexível e de curto prazo tendo como alvo necessidades-chave de transição e estabilização… Os programas do OTI são desenhados individualmente para atender às necessidades mais importantes da transição, focando nas questões decisivas que vão definir o futuro do país… O OTI busca parceiros para projetos que vão fornecer a faísca para a transformação social”.
O governo dos Estados Unidos não depende apenas da USAID e do NED para solapar o governo venezuelano.
Um documento de 2007 da Agência de Segurança Nacional (NSA) tornado público no ano passado por Edward Snowden descreve “as prioridades da agência em 2007 para os próximos 12 ou 18 meses em termos de ‘signals intelligence’ (SIGINT) ou espionagem eletrônica”.
O documento lista seis “alvos duradouros”, seis países que a NSA acredita que precisam “ser alvos holísticos por causa de sua importância estratégica”.
A Venezuela é mencionada como um dos “alvos duradouros”, junto com a China, Coreia do Norte, Irã, Iraque e Rússia.
O objetivo da NSA na Venezuela era o de ajudar os “políticos dos Estados Unidos a evitar que a Venezuela atinja seu objetivo de liderança regional e que busque políticas que tenham impacto negativo nos interesses globais dos Estados Unidos”.
De seus escritórios em Miami, a USAID continou a apoiar as atividades da oposição venezuelana e seus aliados estrangeiros. O escritório do Solidarity Center [braço sindical do NED, ligado à central sindical norte-americana AFL-CIO] em Bogotá recebeu uma grande doação de U$ 3 milhões para dois anos em 2012, para operações não especificadas na região andina, inclusive na Venezuela. O Solidarity Center mudou suas operações venezuelanas de Caracas para Bogotá depois do golpe fracassado contra Chávez em 2002.
As atividades na Venezuela se tornaram impossíveis depois que foi revelado que o Solidarity Center financiou a Confederação Venezuelana de Trabalhadores (CTV), anti-Chávez, que jogou um papel instrumental no golpe fracassado.
De acordo com o sociólogo Kim Scipes, o escritório do Solidarity Center em Bogotá é gerenciado por Rhett Doumitt, que dirigia a organização na Venezuela durante o golpe.
Enquanto isso, o NED continua a financiar a “sociedade civil”, dando a organizações locais mais de U$ 1,5 milhão em 2012.
Não é surpreendente que o secretário de Estado John Kerry tenha criticado o governo da Venezuela por violência relacionada aos protestos e sugeriu que os Estados Unidos estão considerando impor sanções. Ele também anunciou recentemente a iniciativa de convencer outros líderes da região a se juntar aos Estados Unidos e mediar a crise. Claramente, o objetivo é forçar o governo da Venezuela a negociar com a oposição, que não consegue vencer em eleições justas e livres.
É provável que qualquer processo de mediação liderado pelos Estados Unidos vá resultar num pedido para o presidente Maduro renunciar e na instalação de um governo interino.
É uma estratégia-modelo dos Estados Unidos usada em outros lugares: dar apoio a movimentos de oposição para desestabilizar um país a ponto de justificar a mudança de regime. Dentre as campanhas bem sucedidas de desestabilização de Washington, que derrubaram governos eleitos democraticamente, estão a que tirou do poder o presidente Jean Bertrand Aristide no Haiti em 2004 e a remoção de Viktor Yanukovich na Ucrânia duas semanas atrás.
A figura de oposição que lidera os atuais protestos na Venezuela é Leopoldo López, educado em Harvard, que também foi instrumental na organização dos protestos de rua de abril de 2002, que foram parte do golpe fracassado.
Ele também é o ex-prefeito do município mais rico da Venezuela e integrante de uma das famílias mais ricas do país. López recebeu financiamento do NED apesar de um telegrama diplomática de 2009, da embaixada dos Estados Unidos na Venezuela, também publicado no Wikileaks, tê-lo definido como “uma figura divisiva da oposição” que é “geralmente descrito como arrogante, vingativo e sedento de poder”.
López abandonou a campanha presidencial de 2012 quando ficou claro que ele não teria os votos necessários para derrotar o principal candidato da coalizão. Ele recentemente se entregou às autoridades para enfrentar acusações de instigar violência, enquanto Maduro expulsou três diplomatas dos Estados Unidos que alegadamente se encontraram com manifestantes nos dois meses que precederam as manifestações.
Como mencionado nos documentos acima, a política dos Estados Unidos tem sido a de desestabilizar o governo da Venezuela com o objetivo de trocar o regime.
Washington apoiou um golpe militar, financiou as tentativas eleitorais da oposição e grupos cujo objetivo é desestabilizar o país. Os atuais protestos constituem a culminação de mais de uma década de políticas voltadas para solapar o governo.
Embora muito da estratégia dos Estados Unidos tenha sido implementada sobre a rubrica de “promoção da democracia”, na verdade o objetivo é a derrubada inconstitucional de um governo eleito e a instalação no poder de uma oposição que tem repetidamente fracassado na tentativa de vencer no voto, em eleições justas e livres.
Garry Leech is an independent journalist and author of numerous books including Capitalism: A Structural Genocide (Zed Books, 2012); Beyond Bogota: Diary of a Drug War Journalist in Colombia (Beacon Press, 2009); and Crude Interventions: The United States Oil and the New World Disorder (Zed Books, 2006). He is also a lecturer in the Department of Political Science at Cape Breton University in Canada.
PS do Viomundo1: O dirigente da FTI Consulting para a América Latina é Frank Holder, conhecido da Polícia Federal brasileira como ex-integrante da empresa de espionagem Kroll.
PS do Viomundo2: Assim que assumiu o poder, depois do golpe contra Chávez, o empresário Pedro Carmona Estanga fechou o Parlamento! Ah, esses democratas!
PS do Viomundo3: No Brasil, o lobby do momento é em busca de alguma manifestação do governo brasileiro que enfraqueça Maduro. Está lá, no ponto cinco do documento da embaixada: isolar Chávez (agora Maduro) internacionalmente. Resta saber se os proponentes são inocentes úteis ou lobistas pagos, em dinheiro ou favores.
PS do Viomundo4: A CNN em espanhol trabalha 24 horas por dia na guerra da propaganda. Destaca de forma proeminente as manifestações de artistas populares, como Rubén Blades e Rihanna, em apoio aos manifestantes da Venezuela. Está lá, no documento das ONGs, contar com a ajuda de “personalidades globais”. Se tiverem milhões de seguidores no twitter, então, melhor ainda…

“Mídia traz uma Venezuela caricata, completamente deslocada da realidade”

Publicado originalmente na Revista Forum

Não se trata de tecer louvores ao país latino-americano, mas de apelar para noções básicas do jornalismo

Por Valéria Nader, do Correio da Cidadania

Acompanhar o noticiário internacional é sempre uma experiência que demanda discernimento – afinal, trata-se de notícias que vêm de longe e que, além de obviamente sujeitas ao viés analítico e ideológico do órgão de comunicação que as irradia, são relativas a fatos não vivenciados no dia a dia do público leitor. No Brasil, precisa-se de bem mais que discernimento para passar por esta experiência – muita desconfiança e dois pés pra trás talvez não deem conta da tarefa, especialmente se estão em foco países que tomaram um rumo que fuja minimamente ao que determina o mainstream.

A Venezuela é certamente um desses países. E não se trata aqui de tecer louvores ao país latino-americano, o qual, a exemplo de tantas outras nações de nossa região, tem uma trajetória marcada por uma série de contradições e precariedades sociais e políticas. Trata-se simplesmente de apelar para noções básicas e primárias do jornalismo, de modo que, diante dos fatos, se porte com um mínimo de seriedade e isenção.

Assistir  aos noticiários ou ler matérias dos maiores grupos de mídia sobre os últimos manifestos na Venezuela é se deparar, no entanto, sem exceção, com um bloco monocórdio, parcial e tendencioso. Um dos jornais televisivos de maior repercussão no país, o Jornal Nacional da Rede Globo, em uma de suas edições da semana passada, chegou a trazer os acirrados acontecimentos da Venezuela, com sua população visivelmente dividida (como é de praxe em situações sociais de conflagração ou mais extremadas), a partir das falas, imagens e cenários de somente um dos lados – a oposição ao presidente Maduro e ao chavismo.

Ideias como as refletidas pela frase “Governo que cai? Não. Governo que sustenta grupos paramilitares e uma polícia política, dispostos a aterrorizar atos da oposição, espionar e matar”, seguida de posterior e literal alusão ao nazismo – frase de um editorialista da Folha de S. Paulo, na segunda-feira, 24 de fevereiro -, são quase exclusivamente o que se vê espelhado pela imprensa corporativa. Autênticas caricaturas de direita, ditadas pelos porta-vozes e críticos vorazes dos clichês que saem pela esquerda.

Para avançar o debate, o Correio da Cidadania insere-se na tentativa de outros veículos que procuram dar voz àqueles que não têm entrada na grande mídia e que apresentam fatos e visões que nela são quase proibidos. Na noite de segunda-feira, 24 de fevereiro, conversamos com Pedro Silva Barros. Professor licenciado do Departamento de Economia da PUC-SP e doutor em Integração da América Latina pela USP, é técnico de planejamento e pesquisa do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e titular da missão deste órgão do governo federal em Caracas, Venezuela, desde setembro de 2010.

Dentre as várias e abrangentes colocações sobre o país no qual vive há quase 4 anos, Barros destaca que “os canais estatais não superam, somados, 10% da audiência”. Ele está se referindo ao mesmo país e à mesma mídia que os meios de comunicação por aqui denunciam como “100% controlados pelo chavismo”.

Abaixo, a entrevista exclusiva.

Correio da Cidadania: A Venezuela está no olho do furacão e, para aqueles que observam de fora os acontecimentos políticos, o cenário é no mínimo confuso. O que você teria a comentar, em primeiro lugar, sobre os últimos e intensos protestos e a composição das forças oposicionistas (protagonizada por Henrique Capriles e Leopoldo López) que estão a mobilizá-los?

Pedro Barros: A oposição na Venezuela tem marchado unida dentro de sua multiplicidade. Depois de uma derrota de mais de 20% dos votos no referendo em que tentava revogar o mandato do presidente Chávez em 2004 e de boicotar as eleições parlamentares de 2005, apoiaram Manuel Rosales nas presidenciais de 2006 e Capriles nas eleições de 2012 contra Chávez e no apertado pleito de 2013 contra Maduro, além dos referendos para mudanças constitucionais de 2007, o único em que foram vitoriosos, e de 2009.

Em 2012, a economia venezuelana cresceu mais de 5% e a inflação havia diminuído, ainda que num patamar alto, próximo a 20%; Chávez venceu as eleições em outubro com mais de 10% de vantagem. No início de 2014, após a vitória governista nas eleições municipais de dezembro passado, houve uma aproximação do governador (de Miranda, o estado com as maiores taxas de homicídio do país) Capriles com o governo federal para tratar de temas específicos, notadamente segurança pública. Esse tema é particularmente importante quando se leva em conta que, em 2012, o presidente Chávez havia lançado o Plano Nacional de Segurança Pública e o governo de Miranda não havia participado desse processo. Talvez isso o tenha afastado dos setores mais radicais da oposição, liderados por Leopoldo López.

Nas últimas semanas, López, o prefeito de Caracas, Antonio Ledezma, e a deputada María Corina lançaram o movimento “A Saída”, abrindo espaço para reivindicações extra-constitucionais. A despeito da condenação de Capriles e outras figuras históricas da oposição, parcela importante do movimento estudantil aderiu à radicalização, que culminou nos episódios violentos de 12 de fevereiro, que deixou três mortes, dezenas de feridos, inclusive das forças de segurança, e destruição de prédios públicos. Hoje as mortes já chegaram a quinze.

A justiça venezuelana expediu uma ordem de detenção de Leopoldo López, acusando-o de mentor intelectual dos protestos (formalmente, as acusações são associação para delinquência, danos ao patrimônio e incitação à violência). Ainda que seja um setor minoritário na oposição, o radicalismo tem ganhado força, particularmente na fronteira com a Colômbia e na região mais rica de Caracas. Alberto Ravell, jornalista muito influente na oposição, escreveu hoje pelo Twitter que “na Ucrânia já foi possível” – avalio que seja uma declaração bastante ilustrativa das intenções dos setores mais radicalizados.

Correio da Cidadania: O Prêmio Nobel da Paz Adolfo Pérez Esquivel disse à imprensa argentina que “há uma intenção de desestabilizar não apenas a economia, como também a ação social e política” na Venezuela, o que seria especialmente patrocinado pelos EUA. Como você encara esta possibilidade, ou seja, a ingerência externa na Venezuela?

Pedro Barros: A história recente da Venezuela é marcada pelo golpe de 2002, que levou o empresário Pedro Carmona ao poder por menos de 48 horas. Apenas os governos dos EUA de George W. Bush e da Espanha de José María Aznar, além do Fundo Monetário Internacional, reconheceram a legitimidade de Pedro, o Breve.  Desde então, foi frequente a tensão entre Venezuela e EUA.

Na semana passada, por exemplo, a deputada cubano-americana Ileana Ros-Lehtinen (Partido Republicano, Florida) afirmou que demandou ao presidente Barack Obama sanções econômicas à Venezuela. No mesmo ato em apoio às manifestações, realizado em Miami, Luigi Boria, prefeito de Doral, cidade com alta concentração de latinos na Florida, expôs que estava “muito entusiasmado porque acredito que agora sim se produzirá uma saída frente ao atropelo, à violação aos direitos humanos que se vive na Venezuela” e que “a experiência da Síria deve levar a uma reflexão do Departamento de Estado sobre as ações que se devem tomar. Acredito que os Estados Unidos e o presidente Obama devem tomar ações sobre a Venezuela”. Seria difícil não considerar natural e legítimo que o governo e os venezuelanos se preocupem com esse tipo de demanda externa.

Nem seria necessário elencar as intervenções norte-americanas na América Latina ou em países exportadores de petróleo, apenas lembrar que a Venezuela está a três horas de voo de Miami e possui reservas de mais de 300 bilhões de barris de petróleo, a maior do mundo. De acordo com a Agência Internacional de Energia e com o principal anuário estatístico do tema, editado pela petrolífera britânica BP, a Venezuela tem as maiores reservas de petróleo do mundo. Ainda que seja predominantemente um petróleo pesado, cujo custo de refinação de um barril supera US$ 20, ele é vendido a quase US$ 100 por barril.

Talvez valha ainda apontar que, há dez anos, a Venezuela não exportava nenhuma gota de petróleo para a China e hoje vende mais de 400 mil barris diários para seu maior parceiro asiático.

Correio da Cidadania: Em que medida, de todo modo, a tensão está associada às reais condições sociais e econômicas do país, que têm de fato se precarizado, sobrepondo-se ao cenário e visão tão polarizados quando a Venezuela está em foco?

Pedro Barros: Nos quinze anos de chavismo, a Venezuela foi o país do mundo que mais distribuiu renda e combateu a pobreza. Isso foi impulsionado pelo incremento do investimento social, permitido pelo aumento da arrecadação, principalmente devido ao aumento do controle do governo sobre a renda petroleira, que foi particularmente alta nesse período. O mesmo êxito não ocorreu nas tentativas de diversificar a economia e, mais recentemente, no controle de importantes variáveis macroeconômicas, como o câmbio ou a inflação.

Há evidentes problemas na economia venezuelana; ao mesmo tempo, a maioria da população tem a clareza de que a alternativa não é retornar ao passado. A repetição da saída fracassada de 2002 é improvável em um cenário em que as forças armadas, a estatal petroleira e parte dos meios de comunicação estão comprometidas com o processo político em curso. Em 2002, parte considerável da cúpula militar, a maioria da direção da estatal petroleira PDVSA e todos os meios de comunicação relevantes estavam absolutamente comprometidos com o golpe – mesmo assim, o povo na rua, em atitude inédita na região, reverteu as ambições desses setores.

Naquele tempo, por exemplo, não estavam estruturadas as missões sociais, as redes de distribuição de alimentos a preços bastante subsidiados. A pobreza extrema chegava a 13,5% da população, hoje está em 2,5%, um número fantástico para um país latino-americano. Não há grandes mudanças no estoque de riqueza (patrimônio), mas os resultados na distribuição de renda são fabulosos: a CEPAL aponta a Venezuela como a melhor distribuição de renda da América Latina, medida pelo coeficiente de Gini, superando o Uruguai ou a Costa Rica. O governo construiu uma grande rede com 27 mil pontos de distribuição de alimentos entre hipermercados, mercados médios e postos itinerantes. Ainda que haja escassez de alguns itens, o consumo per capita de proteína triplicou em 15 anos, a mendicância praticamente inexiste, ninguém passa fome. As camadas mais pobres da população vivem melhor e têm muito mais conhecimento sobre os seus direitos.

Há também uma economia difícil de ser analisada a partir do exterior. Os subsídios são imensos, particularmente sobre energia, transporte, comunicação, alimentos básicos e itens de primeira necessidade. Uma lata de refrigerante custa quatro vezes mais do que um tanque de 50 litros de gasolina em um mesmo posto de serviço. Uma parcela muito pequena da população tem renda familiar inferior a 5 mil bolívares. Um bilhete do metrô de Caracas custa 1,5 bolívares, o mesmo valor de um minuto de ligação de um celular venezuelano para um celular no Brasil; o custo mensal do gás residencial é de 8 bolívares para mais de 90% dos consumidores; a assinatura da TV a cabo por mês custa aproximadamente 300 bolívares. Isso permite um padrão de consumo para a maioria dos venezuelanos que apenas uma minoria dos latino-americanos consegue ter.

Ao mesmo tempo, há distorções importantes, a escassez e as filas têm aumentado, parece que uma parte importante das classes médias não está disposta a enfrentá-las em seu cotidiano e alguns mercados não querem tê-las, restringindo o acesso e limitando a compra dos produtos subsidiados. Nos últimos anos, esses impasses foram equacionados e legitimados em disputas eleitorais: o governo mostrando as conquistas e a oposição, as limitações do modelo político, social e econômico. Vários organismos internacionais e organizações renomadas, como a Unasul e o Centro Carter, têm reconhecido as eleições e o sistema eleitoral da Venezuela como justo e limpo. Os resultados têm sido ligeiramente favoráveis ao chavismo.  A oposição governa em importantes estados, como Miranda e Lara, e cidades, como Caracas, Maracaibo e Barinas, capital do estado homônimo onde Hugo Chávez nasceu e seu irmão mais velho atualmente governa.

Conheço todos, todos os países da América Latina, todos os estados do Brasil e 21 dos 23 estados venezuelanos; não tenho a menor dúvida em afirmar que a Venezuela é o melhor país da região para alguém que está na metade mais pobre da população viver, se alimentar, ter acesso à educação e a bens de consumo. Não poderia dizer o mesmo na primeira vez que estive aqui, pouco mais de uma década atrás. O fenômeno migratório é ilustrativo. Ao mesmo tempo em que algumas dezenas de milhares venezuelanos das classes altas e médias emigram, principalmente para Estados Unidos, Colômbia e Panamá, a quase totalidade dos aproximadamente três milhões de colombianos, peruanos e equatorianos das classes médias e baixas que imigraram para a Venezuela permanece aqui. Analogicamente, a população universitária do país chega a dois milhões de estudantes, 7% da população está cursando o nível superior hoje na Venezuela (no Brasil, este número é menor que 3,5%, ainda que tenha dobrado nos últimos dez anos), mas a produção científica e a inovação avançaram pouco por aqui.

Correio da Cidadania: Como enxerga, neste sentido, o desempenho do governo, primeiro de Chávez, e agora de Maduro, e sua relação com a degringolada da situação econômica e social do país, visto haver intensos relatos de carestia, inflação galopante, crescente dívida externa, entre outros?

Pedro Barros: A Venezuela oscilou anos de forte crescimento econômico com outros de estagnação ou recessão.

É permanente a tensão entre manter o bolívar valorizado, garantindo subsídios às importações, ou desvalorizá-lo para tentar diversificar a economia, com riscos de carestia no curto prazo. A opção do governo tem sido a primeira. No último ano, a sua principal preocupação foi se legitimar politicamente. No campo econômico, porém, se destacaram a inflação e o desabastecimento de alguns produtos. O presidente Maduro foi eleito em abril, pouco mais de um mês após a morte de Hugo Chávez. Havia pressão inflacionária e certo descontrole do mercado cambial paralelo. Ainda que a dívida externa tenha crescido e as reservas internacionais tenham caído, a balança comercial da Venezuela ainda é superavitária. Mais de 70% das reservas venezuelanas são precificadas em ouro, cujo preço frente ao dólar recuou algo como 30% em 2013, mas já recuperou quase 10% neste ano; as reservas totais, porém, são o dobro do que eram há quinze anos. A dívida externa de curto prazo é estável e menor do que as reservas. A dívida de longo prazo continua um pouco inferior às receitas de doze meses de exportação petroleira. Isso traz algum conforto para uma economia tão questionada. Há trinta anos a Venezuela não consegue ter três anos seguidos de inflação abaixo de 20%; nessas três décadas o período de inflação mais baixa foi o do governo de Hugo Chávez. Os outros dois governos, de Carlos Andrés Pérez e Rafale Caldera, tiveram taxas de inflação média superiores aos 56% nos últimos doze meses.

Talvez a ausência de Chávez tenha anestesiado um pouco o país e o governo. Provavelmente seria imprescindível uma grande estabilidade política para ajustes de longo prazo na política econômica, mas a vitória bastante apertada, a demora da oposição em reconhecer a derrota e as eleições municipais de dezembro impuseram outras prioridades, de curto prazo.

A política de impor redução de preços com coerção estatal (particularmente dos bens de consumo que eram adquiridos com taxas de câmbio preferenciais e revendidos ao preço do mercado cambial paralelo) obteve grande apoio e sustentou um aumento da popularidade do presidente Maduro no último trimestre de 2013. A oposição tinha a leitura de que a situação econômica havia se deteriorado no curso do ano e que isso comprometeria o desempenho eleitoral dos candidatos governistas. O próprio Capriles apresentava a eleição de dezembro como um plebiscito sobre Maduro. As urnas, porém, garantiram a vitória chavista em 75% das cidades do país.

No início do ano, principalmente após o assassinato brutal da modelo Mónica Spear, o tema da segurança pública tomou conta do debate político. Houve uma aproximação entre governantes das mais variadas matrizes políticas para tentar amenizar o problema e concertar políticas públicas conjuntas. Parte mais radical da oposição passou a questionar a liderança de Capriles e a estimular protestos violentos.

Correio da Cidadania: Como você analisa o gesto político de López, que se entregou semana passada à polícia venezuelana, sem deixar de fazer discursos de estímulo a seus seguidores?

Pedro Barros: Há uma disputa interna da oposição entre, ao menos, duas táticas para chegar ao poder. É parte de qualquer processo político que haja divisões dentro das grandes coalizões. Há disputas dentro do chavismo e há embates internos na oposição. Nos últimos anos, porém, os moderados ganharam espaço em ambos os lados.

Muita gente diz que não é fácil ser político sem mandato. Leopoldo López, que havia abandonado a prévia da oposição que definiu Capriles como candidato em 2012, aparentemente apostou no tudo ou nada e parte significativa de seus seguidores defendem a ruptura institucional. Os oposicionistas que têm tido votos, como o governador de Lara Henri Falcón, um ex-chavista, porém, são muito mais moderados. Agora pela noite, em reunião do Conselho Federal de Governo, ele defendeu que é hora de isolar os violentos e diminuir o tom do discurso.

O prefeito oposicionista de Baruta (região de Caracas), Gerardo Blayd, afirmou hoje que os protestos devem ser “racionais e pacíficos”. O mesmo vale para o prefeito de Chacao, Ramón Muchacho. Essa visão encontra pouco apoio entre os manifestantes, mas é música para os ouvidos da imensa maioria da população, fatigada pela polarização e marcada pelo massacre do Caracazo, que completará 25 anos na quinta-feira, pelo golpe de 2002 e pelo locaute do fim de 2002 e início de 2003.

Correio da Cidadania: Qual a sua opinião sobre a cobertura da mídia, interna e externamente à Venezuela, no geral e no que se refere aos acontecimentos aqui narrados?

Pedro Barros: Diferentemente de 2002, hoje há acesso plural às informações na Venezuela. Nesta manhã fui à banca e contei dez jornais diferentes, todos eles impressos com papel subsidiado. Oito eram oposicionistas, com diferentes ênfases.

Sugiro a visita aos sítios do influente eluniversal.com, do tradicional el-nacional.com, do talcualdigital.com, que nasceu para se opor ao chavismo, do econômico elmundo.com.ve, do ultimasnoticias.com.ve, que é o mais vendido, e do governista correodelorinoco.gob.ve. Os dois canais mais vistos da TV aberta, os privados Venevisión e Televen, que foram protagonistas do golpe em 2002, não dão maior destaque às questões políticas. Também a privada Globovisión, que antes só apresentava os pontos de vista da oposição, tem se preocupado em dar espaço ao governo. Os canais estatais não superam, somados, 10% da audiência. Na TV paga, que aqui é muito mais acessível e vista do que no Brasil, há vários canais oposicionistas, inclusive a CNN em espanhol, que tem entrevistado vários oposicionistas venezuelanos, ainda que seja um canal regional. Evidentemente, a TeleSUR é seu maior contraponto. No rádio também há grande diversidade, a maior parte das emissoras privadas são abertamente de oposição, contrapostas pelas emissoras públicas e, principalmente, comunitárias, que têm muito espaço na Venezuela.

A cobertura internacional é majoritariamente contrária ao governo, que parece ter concentrado seus esforços em divulgar internamente suas ideias e ações. Nos últimos anos, outros países da região talvez estejam seguindo esse mesmo caminho introspectivo. Surpreende muito o comportamento da imprensa brasileira, particularmente dos jornais, que antes apresentavam o ponto de vista do governo venezuelano, ainda que se opusessem a ele.

Vou concentrar meus comentários na Folha de S. Paulo, que acompanho diariamente desde que me alfabetizei, o que prossigo fazendo hoje, assinando e lendo a versão eletrônica sistematicamente; e na TV Globo, na qual assisto ao noticiário por meio da Globo Internacional. O conteúdo mais desinforma do que informa e a análise, extremamente caricata, é completamente deslocada da realidade.

Ambos os veículos enviaram jornalistas ao país na última semana, e nenhum deles procurou o governo ou qualquer posicionamento simpático a ele em qualquer de suas reportagens. Quando se cita o governo ou se apresenta alguma declaração, restringe-se a imagens e pequenas frases que são reproduzidas pelas agências de notícias tradicionais. A coletiva do presidente Maduro à imprensa internacional na sexta passada, reportada no mundo todo, não contou com a presença ou a menção desses veículos de comunicação.

No início da semana passada, o Jornal Nacional apresentou duas entrevistas de rua para encerrar a matéria uníssona de que uma ditadura estava em curso; na primeira, ao ser perguntado sobre o que esperava para os próximos dias, o entrevistado afirmou seu desejo de que o governo caia; na segunda, veio uma ressalva: que não tenha derramamento de sangue. Um roteiro para um golpe a la Honduras e Paraguai.

Se eu não acompanhasse a Venezuela e estivesse no Brasil, provavelmente teria essa leitura. Mais para o fim da semana, a mesma repórter foi enfática: “Os protestos continuam proibidos, mas os estudantes não saem das ruas”. As manifestações perdiam intensidade e os governos Chávez e Maduro nunca proibiram protestos na Venezuela, que têm menos restrições e mais proteção para serem realizados do que na grande maioria das democracias, inclusive do que no Brasil. O problema da violência e do excesso de armas na Venezuela vai muito além e independe dos protestos em curso. Os excessos cometidos, que evidentemente existiram, estão sendo investigados.

Os funcionários do serviço de inteligência que descumpriram a ordem de aquartelamento e atiraram no dia 12 de fevereiro estão detidos e a investigação está em curso. O assassinato da estudante que havia sido miss turismo do estado de Carabobo foi causado por um tiro pelas costas, as investigações também estão em curso, mas, provavelmente, o tiro partiu de manifestantes da oposição. Os comentaristas brasileiros foram taxativos ao responsabilizar os “colectivos” pela morte.

Até agora, em duas semanas de protestos, na contabilidade mais ampla, da ONG Foro Penal, foram 539 detidos em toda a Venezuela, a grande maioria já liberados; 19 estão privados de liberdade por decisão judicial, segundo a mesma contagem. Apenas no sábado passado 262 foram detidos, incluindo 5 jornalistas, em um único protesto em São Paulo, que talvez tenha sido menos violento do que os que têm ocorrido aqui.

Hoje à noite, a mesma Delis Ortiz apresentava o general aposentado Angel Vivas como um herói, respaldado por seus vizinhos por resistir a uma ordem de detenção com um fuzil norte-americano nas mãos e uma pistola na cintura na varanda de sua casa. Sequer comentou a motivação da ação policial: ele havia aconselhado os manifestantes a utilizarem arame farpado nos bloqueios de rua e, horas depois, um trabalhador que voltava para casa em sua moto foi morto com o pescoço cortado por essas barricadas. Na reportagem, foi apresentada a vaga acusação de incitação à violência, sem nenhuma referência ao fato concreto. Na conta da imprensa brasileira, foi mais um manifestante que caiu em combate contra as forças da ditadura.

Fico a pensar qual seria a reação dos mesmos jornalistas se uma figura pública brasileira tivesse, um dia antes da trágica morte do cinegrafista Santiago Andrade, incentivado que os manifestantes que protestam contra o aumento da passagem de ônibus no Brasil utilizassem rojões contra a polícia, alegando que ela havia reprimido desproporcionalmente em atos do passado próximo.

A enviada da Folha de S. Paulo tem escrito diariamente, raramente cita uma fonte governamental ou uma posição que não seja de oposição radical a tudo que foi feito na Venezuela nos últimos quinze anos. As opiniões, quando não são de políticos opositores, são de ONGs opositoras. Tenta reportar que há manifestantes que lutam contra uma ditatura, que não podem utilizar meios eletrônicos e enfrentam o terror de bandos armados clandestinos que defendem o governo, que permite que eles pratiquem crimes variados impunemente.

Tanto a enviada, como um ex-correspondente que publicou artigo de análise do caso venezuelano, como outro analista de temas aleatórios, apresentam uma absoluta confusão entre colectivos, milícias e paramilitares, como se tudo fosse a mesma coisa, como se não existisse uma lei que regulamentasse as milícias como reservistas e parte da defesa nacional da Venezuela, independente de sua coloração política, e que atuam fardados e identificados. Como se participar de um movimento social fosse, em si, um crime. Como se o que acontece no México ou na Colômbia fosse transposto automaticamente à Venezuela. Utilizam o termo milícias como se fossem os grupos que controlam ou controlavam áreas do Rio de Janeiro.

Ontem o jornal publicou textualmente que a estratégia atual do governo era bloquear Twitter e Facebook, usando essa terminologia. Não consulto esses meios com frequência, mas meus colegas de trabalho e alguns amigos, sim: foram unânimes em afirmar que isso nunca aconteceu na Venezuela. Pode ter havido oscilação na velocidade da internet, mas nunca o Twitter foi retirado do ar ou coisa parecida, basta ver a sequência de publicação das mensagens de venezuelanos. A própria enviada postou pelo Twitter, a partir de Caracas, que não poderia utilizar redes sociais. Em poucos países do mundo esses instrumentos são tão utilizados e democratizados pelo amplo acesso à internet como na Venezuela, que tem a rede mais abrangente e de menor custo da América Latina. Provavelmente, eles nunca haviam sido tão utilizados aqui como nos últimos dias.

Infelizmente, para o leitor brasileiro que gostaria de saber o que está acontecendo na Venezuela, o jornal nunca reportou os mais de 4 milhões de laptops com acesso à internet distribuídos gratuitamente para estudantes da educação básica e média. A palavra “canaimita”, que denomina esses computadores, nunca foi publicada pela Folha. No início deste ano, o governo anunciou, como parte da expansão do projeto, que distribuirá 2 milhões de tablets, igualmente com acesso à internet, para estudantes universitários. Desnecessário dizer que existe uma forte contradição entre essa política macro de ampliar radicalmente o acesso ao conhecimento e à informação e o denuncismo de censura estampado na manchete do jornal.

Talvez caminhar um pouco pelas periferias, conhecer um pouco do interior, sair da área de um quilômetro quadrado ao redor do hotel da área mais nobre de Caracas, que abrigou os generais golpistas de 2002 e 2003 e que concentra os protestos dos últimos dias, ajudasse a entender o que se passa na Venezuela.

Correio da Cidadania: Como você acha que se dará o desfecho de mais esta crise venezuelana e quais as perspectivas do chavismo, um processo político que já supera 15 anos no governo?

Pedro Barros: No último sábado, observei de perto as manifestações da oposição e do governo e em ambas havia clima de absoluta normalidade e proteção policial para evitar possíveis confrontos. Destaca-se que a da oposição foi realizada em El Marqués, no município de Sucre, governado pela oposição, no estado de Miranda, governado pela oposição. Os maiores confrontos até agora foram na Praça de Altamira, município de Chacao, governado pela oposição, estado de Miranda, governado por Capriles, que tem sistematicamente criticado a prática de guarimbas (barricadas para bloqueio de ruas e avenidas, que em Caracas acontecem quase que exclusivamente em bairros nobres). Pelo que é reportado, os protestos no estado de Táchira, na fronteira com a Colômbia, que foram mais fortes, também têm perdido intensidade.

Nem sempre é fácil diagnosticar ou traçar cenários sobre o que se passa na Venezuela. Correndo o risco de errar redondamente, diria que os protestos vão esfriar nos próximos dias, serão rearticulados e voltarão com força no próximo período, podendo coincidir com a Copa do Mundo de futebol.

O chavismo é o movimento que marcou a primeira tentativa de ruptura com o Consenso de Washington na América Latina. Depois vieram mais de uma dezena de governos, com diferentes tonalidades, mas com um objetivo parecido, de diminuição das desigualdades e não alinhamento automático aos Estados Unidos. A resposta fácil sobre as perspectivas seria indicar que o desafio é garantir o aprofundamento das conquistas sociais em um cenário econômico e, talvez, político adverso. Sistematicamente, tentaram apresentar a morte de Chávez como o fim do chavismo, mas, com o passar dos meses, me parece claro que estamos apenas no começo de uma longa história.

Provavelmente, mais do que qualquer outro, o posicionamento sobre o que se passa na Venezuela indica as posições que cada um tem sobre o futuro da América Latina. As notas do Mercosul, da Unasul e da Celac, ainda que diferentes, indicam uma região mais unida, preocupada com a estabilidade e progresso mútuos. Essa tem sido a posição da presidente Dilma Rousseff, que foi afirmativa nos momentos mais decisivos da história recente da Venezuela, seja para a entrada do país no Mercosul, seja para o reconhecimento internacional das eleições de abril de 2013.

Agora há pouco, em Bruxelas, ela foi novamente assertiva ao declarar que o diálogo, o consenso e a construção democrática são mais adequados do que qualquer tipo de ruptura institucional e que o caos, que é desejado por grupos minoritários na Venezuela, seria a desconstrução social, econômica e política. Por várias vezes, agora e antes, a presidente lembrou que é importante enxergar os avanços sociais da Venezuela.

Em perspectiva histórica e para além da área social, provavelmente o governo Chávez será reconhecido como uma guinada para o sul e em prol da integração regional.

Valéria Nader, jornalista e economista, é editora do Correio da Cidadania.

Sete lições que já deveríamos ter aprendido sobre o golpe de 1964 e sua ditadura

Publicado originalmente no JusBrasil

Há 50 anos, o Brasil foi capturado pela mais longa, cruel e tacanha ditadura de sua história. Meio século é tempo suficiente para aprendermos algo sobre isso.

Publicado por Lucas Souza

1ª Lição: Aquela foi a pior de todas as ditaduras

No período republicano, o Brasil teve duas ditaduras propriamente ditas. Além da de 1964, a de 1937, imposta por Getúlio Vargas e por ele apelidada de "Estado Novo".
A ditadura de Vargas durou oito anos (1937 a 1945). A ditadura que começou em 1964 durou 21 anos.
Vargas e seu regime fizeram prender, torturar e desaparecer muita gente, mas não na escala do que ocorreu a partir de 1964.
Os torturadores do Estado Novo eram cruéis. Mas nada se compara em intensidade e em profissionalismo sádico ao que se vê nos relatos colhidos pelo projeto "Brasil, nunca mais" ou, mais recentemente, pela Comissão da Verdade.
Em qualquer aspecto, a ditadura de 1964 não tem paralelo.

2ª Lição: Qualificar a ditadura só como "militar"escamoteia o papel dos civis

Foram os militares que deram o golpe, que indicaram os presidentes, que comandaram o aparato repressivo e deram as ordens de caçar e exterminar grupos de esquerda.
Mas a ditadura não teria se instalado não fosse o apoio civil e também a ajuda externa do governo Kennedy.
O golpismo não tinha só tanques e fuzis. Tinha partidos direitosos; veículos de imprensa agressivos; empresários com ódio de sindicatos; fazendeiros armados contra Ligas Camponesas, religiosos anticomunistas. Todos tão ou mais golpistas que os militares.
Sem os civis, os militares não iriam longe. A ditadura foi tão civil quanto militar. Tinha seu partido da ordem; sua imprensa dócil e colaboradora; seus empresários prediletos; seus cardeais a perdoar pecados.

3ª Lição: Não houve revolução, e sim reação, golpe e ditadura

Ernesto Geisel (presidente de 1974 a 1979) disse a seu jornalista preferido e confidente, Elio Gaspari, em 1981:
"O que houve em 1964 não foi uma revolução. As revoluções fazem-se por uma ideia, em favor de uma doutrina. Nós simplesmente fizemos um movimento para derrubar João Goulart. Foi um movimento contra, e não por alguma coisa. Era contra a subversão, contra a corrupção. Em primeiro lugar, nem a subversão nem a corrupção acabam. Você pode reprimi-las, mas não as destruirá. Era algo destinado a corrigir, não a construir algo novo, e isso não é revolução".
Quase ninguém usa mais o eufemismo “revolução” para se referir à ditadura, à exceção de alguns remanescentes da velha guarda golpista, que provavelmente ainda dormem de botinas, e alguns desavisados, como o presidenciável Aécio Neves, que recentemente cometeu a gafe de chamar a ditadura de “revolução” (foi durante o 57º Congresso Estadual de Municípios de São Paulo, em abril de 2013).
Questionado depois por um jornal, deu uma aula sobre o uso criterioso de conceitos: “Ditadura, revolução, como quiserem”.
A ditadura foi uma reação ao governo do presidente João Goulart e à sua proposta de reformas de base: reforma agrária, política e fiscal.

4ª Lição: A corrupção prosperou muito na ditadura

Ditaduras são regimes corruptos por excelência. Corrupção acobertada pelo autoritarismo, pela ausência de mecanismos de controle, pela regra de que as autoridades podem tudo.
A ditadura foi pródiga em escândalos de corrupção, como o da Capemi, justo a Caixa de Pecúlio dos Militares. As grandes obras, ditas faraônicas, eram o paraíso do superfaturamento.
Também ficaram célebres o caso Lutfalla (envolvendo o ex-governador Paulo Maluf, aliás, ele próprio uma criação da ditadura) e o escândalo da Mandioca.

5ª Lição: A ditadura acabou, mas ainda tem muito entulho autoritário por aí

O Brasil ainda tem uma polícia militar que segue regulamentos criados pela ditadura.
A Polícia Civil de S. Paulo, em outubro de 2013, enquadrou na Lei de Segurança Nacional (LSN) duas pessoas presas durante protestos.
A tortura ainda é uma realidade presente, basta lembrar o caso Amarildo.
Os corredores do Congresso ainda mostram um desfile de filhotes da ditadura - deputados e senadores que foram da velha Arena (Aliança Renovadora Nacional, que apoiava o regime).

6ª Lição: banalizar a ditadura é acender uma vela em sua homenagem

Há duas formas de se banalizar a ditadura. Uma é achar que ela não foi lá tão dura assim. A outra é chamar de ditadura a tudo o que se vê de errado pela frente.

O primeiro caso tem seu pior exemplo no uso do termo "ditabranda" no editorial da Folha de S. Paulo de 17 de fevereiro de 2009.
Para a Folha de S. Paulo, a última ditadura brasileira foi uma branda (“ditabranda”), se comparada à da Argentina e à chilena.
A ditadura brasileira de fato foi diferente da chilena e da argentina, mas nunca foi “branda”, como defende o jornal acusado de ter emprestado carros à Operação Bandeirantes, que caçava militantes de grupos de esquerda para serem presos e torturados.
Como disse a cientista política Maria Victoria Benevides, que infâmia é essa de chamar de brando um regime que prendeu, torturou, estuprou e assassinou?
A outra maneira de se banalizar a ditadura e de lhe render homenagens é não reconhecer as diferenças entre aquele regime e a atual democracia. Para alguns, qualquer coisa agora parece ditadura.
A proposta de lei antiterrorismo foi considerada uma recaída ditatorial do regime dos “comissários petistas” e mais dura que a LSN de 1969. Só que, para ser mais dura que a LSN de 1969, a proposta que tramita no Congresso deveria prever a prisão perpétua e a pena de morte.
O diplomata brasileiro que contrabandeou o senador boliviano Roger Pinto Molina para o Brasil comparou as condições da embaixada do Brasil na Bolívia à do Destacamento de Operações de Informações do Centro de Operações de Defesa Interna (DOI-CODI), a casa de tortura da ditadura.
Para se parecer com o DOI-CODI, a Embaixada brasileira em La Paz deveria estar aparelhada com pau de arara, latões para afogamento, cadeira do dragão (tipo de cadeira elétrica), palmatória etc.
Banalizar a ditadura é como acender uma vela de aniversário em sua homenagem.

7ª Lição: já passou da hora de parar com as homenagens oficiais de comemoração do golpe

Por muitos e muitos anos, os comandantes militares fizeram discursos no dia 31 de março em comemoração (isso mesmo) à “Revolução” de 1964.
A provocação oficial, em plena democracia, levou um calaaboca em 2011, primeiro ano da presidência Dilma. Neste mesmo ano também foi instituída a Comissão da Verdade.
A referência ao 31 de março foi inventada para evitar que a data de comemoração do golpe fosse o 1º. De abril – Dia da Mentira.
A justificativa é que, no dia 31, o general Olympio Mourão Filho, comandante da 4ª Região Militar, em Minas Gerais, começou a movimentar suas tropas em direção ao Rio de Janeiro.
Se é assim, a Independência do Brasil doravante deve ser comemorada no dia 14 de agosto, que foi a data em que o príncipe D. Pedro montou em seu cavalo para se deslocar do Rio de Janeiro para as margens do Ipiranga, no estado de São Paulo.
A palavra golpe tem esse nome por indicar a deposição de um governante do poder. No dia 1º. De abril, João Goulart, que estava no Rio de Janeiro, chegou a retornar para Brasília. Em seguida, foi para o Rio Grande do Sul e, depois, exilou-se no Uruguai mas só em 4/4/1964. Que presidente é deposto e viaja para a capital um dia depois do golpe?
O Almanaque da Folha é um dos tantos que insistem na desinformação:
“31. Mar.64 — O presidente da República, João Goulart, é deposto pelo golpe militar”. Entende-se. Afinal, trata-se do pessoal da ditabranda.
O que continua incompreensível é o livro “Os presidentes e a República”, editado pelo Arquivo Nacional, sob a chancela do Ministério da Justiça, trazer ainda a seguinte frase:
“Em 31 de março de 1964, o comandante da 4ª Região Militar, sediada em Juiz de Fora, Minas Gerais, iniciou a movimentação de tropas em direção ao Rio de Janeiro. A despeito de algumas tentativas de resistência, o presidente Goulart reconheceu a impossibilidade de oposição ao movimento militar que o destituiu”.
De novo, o conto da Carochinha do 31 de março.
Ainda mais incompreensível é o livro colocar as juntas militares de 1930 e de 1969 na lista dos presidentes da República.
A lista (errada) é reproduzida na própria página da Presidência da República como informação sobre os presidentes do Brasil.
Nem os membros das juntas esperavam tanto. A junta governativa de 1930 assinava seus atos riscando a expressão “Presidente da República”.
No caso da junta de 1969, o livro do Arquivo Nacional diz (p. 145) que o Ato Institucional nº. 12 (AI-12)"dava posse à junta militar" composta pelos ministros da Marinha, do Exército e da Aeronáutica. Ledo engano.
O AI-12, textualmente: “Confere aos Ministros da Marinha de Guerra, do Exército e da Aeronáutica Militar as funções exercidas pelo Presidente da República, Marechal Arthur da Costa e Silva, enquanto durar sua enfermidade”. Oficialmente, o presidente continuava sendo Costa e Silva.
Há outro problema. Uma lei da física, o famoso princípio da impenetrabilidade da matéria, diz que diz que dois corpos não podem ocupar o mesmo lugar no espaço ao mesmo tempo – que dirá três corpos.
Não há como três chefes militares ocuparem o mesmo cargo de presidente da República. Que república no mundo tem três presidentes ao mesmo tempo?
O que os membros da Junta de 1969 fizeram foi exercer as funções do presidente, ou seja, tomar o controle do governo. O AI-14/1969 declarou o cargo oficialmente vago, quando a enfermidade de Costa e Silva mostrou-se irreversível.
Os três comandantes militares jamais imaginaram que um dia seriam listados em um capítulo à parte no panteão dos presidentes. A Junta ficaria certamente satisfeita com a homenagem honrosa e, definitivamente, imerecida.
Que história, afinal, estamos contando?
Uma história que ainda não faz sentido.
Uma história cujas lições ainda nos resta aprender.
Antonio Lassance